quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Gordura

(escultura de Botero)

Há vários tipos de gordura: aquela que lubrifica e decora o corpo, a utilizada para fazer a comida, o aspecto ensebado de quem não tem higiene e a mental, que escorre de algumas verborreias inflamadas sem nada de importante a comunicar aos outros, a não ser um sebo gelatinoso que enlameia a necessária limpeza de discernimento.
Infelizmente, sofro um pouco da primeira, mercê do acumular de alguns pesos excessivos de pecados de boca e de um corpo que implacavelmente se deforma nas mudanças que o tempo lidera sem permitir intromissões. Salva-se, para poucos, a ajuda cosmética da engenharia médica - dispendiosa para muitos( nos quais me incluo...)!
Aflige-me este corpo, outrora fértil em equilíbrio, harmonia e agilidade, com a dificuldade que ele manifesta em executar as mais breves manobras. Parece cansado, perpetuamente cansado, sem requebres de vontades, isento de sabores, ausente de vontades. Perdeu o sal. Está insosso e preguiçoso.
A parte pensante, essa está mais lenta, perdeu a vertigem da descoberta hábil, a solidez, está gaguejante, intermitente com a memória, entretecidas, ambas, numa calmaria alucinante de paragens longas, ausentes, nada céleres. Parece estar surda porque(-quem sabe?-)guardada numa redoma, onde os sons e os sabores da vida se esfumam pausadamente como o gotejar de uma bica de água atemporal e aespacial.

Nenhum comentário: