terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

As palavras não cantadas


Monopólio de mim.
Apareço nelas.
Retrato-me.
Enrolada nos sons sibilantes, quase encantatórios, fundo-me na harmonia dos sons, das sílabas, silabadas com cuidado, austeras, muitas vezes, que se compõem por mim em brincadeiras secretas de sons e vontades inaudíveis.
Enroscadas em metáforas, imagens, sinestesias e hipálages queirosianas. Não tão habilmente trabalhadas, mas que são preenchidas pelo dedilhar do torpor de sentimentos que soam no fundo da minha alma, no retiro dos meus pensamentos, sós e audazes, mas meus, únicos, desinfectados de outros sons, balburdias que me confundem o discernimento.
É bom tocar a linha das palavras e com elas fugir em busca da música interior que percorre o inconsciente balaustrado de tudo o que há ou não há em mim.
Procuro-me no rumorejar dos sons, doce enleio que cerceio, às vezes.

Afectos


Não sei viver sem mimos. Sou uma dependente emocional. A minha família é a minha concha onde hiberno sempre que posso. Atemoriza-me imaginar uma vida sem a confiança, e o aconchego dos que comigo partilham a vida incerta que todos temos. O apoio é incondicional. Em nenhum outro lugar é assim.
Mudam os afectos ao longo dos caminhos da existência. Iniciam-se alterosos, vivos, plenos, praticados, rebuscados, frenéticos, planificados, calmos, sublimes, suaves, perceptíveis, subliminares...
Pequenos nadas de cada um de nós espalham-se pelo espaço interior, outrora íntimo, sempre com atenções e protecções únicas, a nós destinadas, Somos a morada certa por mais incerta que seja a flor prostrada.
Vivemos épocas de história da estória da Vida. Não se apagam como se fossem chamas voláteis. Fica a serenidade e a Família Amanhece.
Não cumpro a vida por inteiro, pois gastei-me nos encontrões que sofri.
Comprometo-me com a certeza da minha semente e o apoio tácito que lhe dou sem rumores.
Sou base em construção da deriva de mim.
Amo.

Em tudo


"No entrudo, vale tudo" - ditado popular, actualmente de constatação imediata, se pensarmos em política. São muitos os disfarces utilizados para esconder a falta de vergonha dos políticos e de grande parte do povo, porque ao votarem nesta maioria(PS,PSD e CDS), são, também eles coniventes com a corrupção, o compadrio e o egoísmo nacional.
Entretanto, vive-se mal, trabalha-se mal, há falta de satisfação de bens essenciais no sentido mais lato. O desemprego é avassalador, desesperante e rola em tantas outras situações afins, que olhos atentos e humanos sofrem de modos diversos ao sentir a incapacidade de ultrapassar o sistema que nos atormenta.

Dói-me a ida para o trabalho; sei que me esperam bandos desenfreados e inconscientes de aves pequenas e sem destino, a não ser o imediato. Atropelam-se os sentimentos de marginalização votados pelos parceiros da arruada! Estes, infernizam o ambiente laboral com círculos fechados, vozes quebradas, olhares de soslaio, ouvidos de feição vampiresca. Pior: atacam pelas costas; piam para os lados; não são sinceros, nem frontais. Não estão naquele espaço para, em conjunto, atingirmos as melhores plataformas de performances...São maldosos, ressabiados e perigosos.
Gostava de sentir-me entre irmãos, mesmo em versão cristã. Sinto-me só e espiada. É a competição. Vale tudo. Primeiro, os que mais podem(F), depois, muito depois, os outros. E se os puderem enterrar, melhor; é de menos um a competir.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

"Noite"


Cheguei há pouco. Cansada, mas plena.
Já não lembrava a sensação de ser ouvida. Do sentimento de partilha. É gente adulta, esta que me ouve. Comunica mais com os olhos, faces e sorrisos, pestanejares surpresos das palavras articuladas, ora com cuidados de mestria, ora com aproximação à vida redonda dos referentes afinal tão próximos.
Deste modo, inverto a descrença das pagãs atitudes de quem está na hora certa de aprender... mas, tão incerta.
Cansam-se meus olhos de tanto esbracejo, torpedos linguísticos, atitudes quejandas, estrumeiras sonoras de mentes nómadas, sem pertença, afago ou doçura!

Abruptas, feias, rodilhas elegantes as parcerias noviças do trabalho. Este já sem espantos diurnos. Restam só as curvas do caminho descendente - sempre a descer - desamparado, com fim não à vista e desassossegos constantes.

Como posso acordar nesta tonalidade? Não há som ou cor que surtam efeito diferente ou amanhecer colorido!