terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Pós- Natal

Todos tivemos prendas, apesar da crise. A de fora e a dentro de cada um de nós.
Fartámo-nos de cozinhar, degustar, jogar, brincar e tantas outras afectividades que nasceram do simples facto de estarmos juntos e de nos "gostarmos".
A minha irmã e cunhado são o casal mais perfeito que conheço. São complementares, cúmplices, unidos, apesar das diferenças que os identificam como seres individuais. São o casal mais próximo da teoria de Platão sobre o Amor; acho que vê-los é dar veracidade à bela história sobre o Amor Platónico. Mas, eles ainda foram mais além: tiveram dois belos rebentos. O rapaz, frondoso e desfraldado; a rapariga, madura, sensível, instruída e dotada de rara capacidade de desenhar/pintar/bordar a realidade. Os traços e tons desenham-se, traídos pelos seus olhares assombrados e arrojados cuja palpitação se desprende calma e determinadamente. É talentosa e magnânima.
O meu "cara-metade" é a Parte que sempre faz falta a este meu EU desfragmentado, aturdido e esquivo.Facilita e perpetua a presença deste meu eu num mundo que estranho e desconfio. Do qual quero fugir.E, depois, tenho uma bela raiz de tez masculina, criadora de ramos, ainda frágeis, mas carregados de tanta flor que, tenho a certeza, vai dar muito fruto!
Que feliz estou por me "outrar" nestes elos que me sustêm e aos quais tanto me enleio.
Renasço, também, no Natal.
Encanto fraseado.( Vou ouvir Jazz: é suficientemente audaz para mim!)

sábado, 27 de dezembro de 2008

Pertencer

Gostava de não ser,
ter ou haver
sentir ou corrigir.
Estou sempre a infringir, esquecer, trocar ou a perder...

Poder ser, é verbo sem chão, mão, ou perdão.

Tenho de saber ser. outra coisa, outro eu
outros aléns, para lá do cá e do lá,
Tomara poder acontecer! Se eu pudera...

Mas, inexiste o cheiro da uva , o dourado do sonho, o cantarolar formoso, a inabilidade do frémito do olhar
passado que é
- não volta!

Perdi-me e não me acho. Transpus-me e transgredi-me. Sonhei, esperei sem acontecer: teimei, forcei!

Quimera.

Sentir(es)

Não sei se por ser Natal, sinto-me mais nostálgica, fraterna - muito embora odeie a caridadezinha...!
Continuo a pensar que os problemas sociais se resolvem por acções conjuntas e acertadas dos diferentes sectores sociais que criam e transformam, para o bem comum, riquezas naturais e humanas.

Sou fruto de uma educação queirosiana, onde o ambiente social em que se cria e a educação liberal em que se inscreve a sua formação, tinha como resultado a assumpção de um ser profundamente ético, defensor de valores e princípios que o transformavam em entidade sensível, verdadeira respeitadora de normas sociais conformes a um desenvolvimento psico-social muito próximo do perfeito.
Pese embora, o pessimismo latente, sou alguém que se revê no naturalismo de Émile Zola e, na actualidade, com "um saber de experiência feito", assumo a impossibilidade de pertencer a uma época onde tudo e todos (ou quase) se tabelam pela ignorância, iliteracia, insensibilidade e incompetência. Sofro não só pelas injustiças,antes pelo roubo, saque, dos "colarinhos brancos" de uma democracia azougada, corrupta e branqueada pelo poder instituído.

Por que sofrer, se já acordei para estas manhãs que não são de Abril?
Será que a esperança é mesmo a última a morrer?

(Cuidei que não a tinha... a esperança... já posta em suave e passado chão!)

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Feliz

O meu filho é meigo, amadurecido e interessado por tudo o que está à sua volta.

É um adolescente cheio de mudanças de humor, que, ao jeito da conversa dos pais, se envolve, revolve até encontrar por si só a sua solução, a sua resposta e depois se acalma e aquieta em deduções ,mais ou menos felizes, mas que são um óptimo exercício de raciocínio, que o ampara na expansão crítica dos juízos e da construção em espiral da sua autonomia, da sua verdade, da sua personalidade.

Sinto-me feliz por ser sua mãe, por o acompanhar no percurso da existência, apostando, não na realidade crua que me desiludiu, mas na esperança nova que ele traduz.

Viver sem o meu núcleo familiar é qualquer coisa de impensável.

(até que ponto o "cipralex" é responsável por este sadio sentimento?!)